RESENHA: Mulher de Roxo

by - agosto 31, 2017

Título: A Mulher de roxo – Retrato de um Mito
Autor(a): Patrícia Sá Moura
Gênero: Biografia
Editora: Arcadia
Lançamento: 2016 – 5ª edição.
Páginas: 186.
Onde comprar: Eu não achei pra vender na internet. Pra quem é de Salvador, eu comprei na livraria LDM que fica no Espaço Itaú de Cinemas Glauber Rocha.
Preço: R$ 25,00.

Esse livro retrata a vida de uma das personagens mais emblemáticas das ruas da cidade de Salvador. A mulher de roxo não era artista, não era escritora, nem política, mas se transformou em um mito pelo encantamento e curiosidade das pessoas sobre a sua existência. A fantasia criada em torno da sua vida serviu de inspiração para músicas, personagem de filme de Glauber Rocha, documentário, peças de teatro e livros.
A primeira vez que eu ouvi falar da mulher de roxo foi ainda na infância. Eu era criança na década de 90 e passava as tardes assistindo desenhos da Tv Cultura. Entre um intervalo e outro, a TVE (afiliada da Tv Cultura na Bahia) exibia uns curtas produzidos em Salvador, e o da mulher de roxo era um desses. Eu me lembro o quanto eu fiquei extasiada vendo aquela história e como aquilo intrigou a minha cabecinha infantil e me despertou uma curiosidade imensa sobre a história da tal mulher de roxo.
Uma lenda urbana, mito, louca, subversiva, exótica, viúva, princesinha, dona da Rua Chile ou apenas uma senhora que vivia pelo centro da cidade nas décadas de 60, 70 e 80, ás vezes pedindo esmola, mas sempre vestida de forma peculiar, com coroas e crucifixos enormes, vestido de noiva ou com sua inseparável túnica preta até os pés e um véu preto ou roxo.
A autora Patrícia Sá Moura através de um riquíssimo trabalho de pesquisa fotográfica, acervo e entrevistas com pessoas que conheceram a mulher, cria uma narrativa cativante e ao longo de doze capítulos apresenta ao público a vida dessa personagem tão enigmática.
Ninguém sabe ao certo de onde ela veio, quais os motivos dela se vestir daquela forma e com o passar da leitura você entende que a proposta do livro realmente não é desvendar os mistérios e sim contar uma história, rica de detalhes, baseada em fatos e personagens reais.
Esse é um daqueles livros que nos fazem viajar no tempo. É um passeio delicioso por uma Salvador que não existe mais. A Rua Chile, o Palace Hotel (que esse ano foi reinaugurado); a Baixa dos Sapateiros, onde ficava o albergue que ela morava; a icônica loja Sloper, onde era a parada oficial dela; a praça Castro Alves, a Praça da Sé e a Ladeira do Pax. O capítulo 3 é uma verdadeira aula de história da cidade.
Alternando a narrativa em terceira pessoa com relatos detalhados das ruas por onde ela andou, o albergue onde morou, as pessoas que conviveram com ela, os tipos de roupa e maquiagem que usava, as simbologias por trás de suas vestes, seu restaurante predileto, o leitor entra no universo peculiar dessa personagem tão singular.
É difícil contar tão bem uma história que já foi contada n vezes em diversos formatos diferentes. Essa biografia consegue superar as expectativas daquele que já está cansado dessa história e encantar quem nunca ouviu falar nela. É realmente um trabalho primoroso sobre cultura, história e pessoas.
Florinda dos Santos morreu em Abril de 1997 em Salvador, mas sua história misteriosa e inesquecível ficará para sempre no imaginário das pessoas!  

Abaixo segue algumas obras sobre a história dela.

Música de Pitty e Cascadura - A mulher de roxo



Parte do espetáculo teatral A Mulher de Roxo, autoria e direção de Deolindo Checcucci, atriz protagonista Selma Santos.




Filme de Glauber Rocha "Antonio da Mortes - O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" de 1969, no qual a moça de manta roxa do foi baseada nela. 


Em frente a Loja Sloper

Com o seu enorme crucifixo

No albergue que vivia


Com a sua imponente coroa


Vestida de noiva


Grafiti feito na ladeira da Praça Municipal em Salvador



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3 comentários

  1. Realmente ela era incrível! Tranquila, sempre se dirigindo aos transeuntes " me dá um dinheirinho para comprar meu armoço".
    Misteriosa e intrigante.

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  2. Minha mãe me levava na rua CHILE eu ficava olhando dona Florinda era algo misterioso como é até hoje

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  3. Belíssimas recordações!Parabéns ao autor do livro!

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